Convivemos por quase um mês com o Cactus topo de linha (versão Shine), com motor 1.6 turbo e câmbio automático (R$ 95.490). A impressão foi das melhores.
Grande parte da relação do motorista com o carro é o volante. E o do Cactus tem ótimo diâmetro, base reta, ajustes de profundidade e distância, e forração em couro suave de ótima sensação táctil.
O acabamento não passa impressão de alto luxo, mas agrada pela originalidade, com detalhes em baixo relevo nas laterais das portas e forrações de couro com apliques de tecido.
Os bancos dianteiros são largos e cômodos. No assento traseiro há ótimo espaço para três passageiros. Mas faltam saídas de ar-condicionado ali atrás.
Já o painel, todo digital como no atual C4 Lounge, tem um conta-giros quase inútil. É uma barrinha pouco visível e imprecisa, com suas marcações de 500 em 500rpm... A 80km/h, em sexta, o instrumento marca 1.500rpm. A 100km/h, também em sexta, continua a indicar as mesmas 1.500rpm!
E, desde o início do teste, a luzinha de calibragem do pneus ficou acesa. Acertamos a pressão várias vezes, mas o alerta nunca apagou. Para as manobras de estacionamento, há apenas câmera de ré. Sentimos falta do alerta sonoro, mais intuitivo.
A posição de dirigir é ótima, bem descansada. As largas colunas traseiras não atrapalham a visão para trás. Tampouco há sensação de claustrofobia.
O acerto de suspensão é o ponto alto — é extremamente suave, mas não deixa os passageiros mareados. É bem diferente da do Aircross...
Seu projeto é comum: McPherson na frente e eixo de torção na traseira. Mesmo não tendo nada de hidropneumática, traz à mente os revolucionários DS fabricados entre 1955 e 1975. Faz jus ao nome Citroën.
Velho conhecido, o motor 1.6 THP, turbo, de 173cv, é ágil e elástico. Aliado ao câmbio automático de seis marchas, dá ao carro um desempenho bem acima da média dos utilitários.
Seria ainda melhor se houvesse aletas atrás do volante para a troca de marchas. Em compensação, a qualquer pressão mais forte no acelerador, o Cactus levanta a frente e, de imediato, mostra muito vigor.
O funcionamento é muito silencioso em qualquer situação e não se ouve, sequer, o assobio do turbocompressor. O consumo começou em 8km/l, com gasolina, na cidade. Mas, ao fim, já com mais traquejo no trato, fazíamos 10km/l.
O desenho do para-choque traseiro forma um alto degrau no acesso ao porta-malas, que atrapalha na hora de carga e descarga. Em compensação, pusemos ali 250kg de terra sem problema de espaço para acomodar os sacos. O carro nem sentiu o peso extra, mantendo-se ágil e controlável.
Para fazer a frente com balanço curto, o motor ficou justo no cofre. Isso poderá representar boas despesas após uma batidinha frontal. Quem deixa o carro “no tempo” deve ver o acúmulo de folhas na base do para-brisa (na reentrância do limpador). Se bobear, isso criará um foco de oxidação.
O Cactus impressiona por seu desenho, especialmente se pintado na cor azul esmeralda, com teto branco, que aumenta seu preço em R$ 2.400. Os racks gigantes no teto são algo inúteis, estão ali mais para acentuar a aparência aventureira do modelo — preferíamos o grande teto solar da versão original francesa.
A Citroën passa por uma fase difícil no Brasil, agravada pelo fechamento de muitas de suas concessionárias. No Rio, capital, resta apenas uma loja (na Tijuca) — mas parece que outras duas (uma na Zona Sul e outra na Barra) estão para abrir. A ver.
Por que este utilitário compacto, em meio a tantos concorrentes, deixou tanta saudade? O conjunto... A direção tem as reações esperadas, o volante é bacana, o motor, excepcionalmente elástico, e a suspensão é excelente. Há ainda o estilo diferentão e as dimensões externas. Ô carro bom de dirigir...
Fonte: O Globo